Alberto Santos=Dumont - Uma Homenagem ao Pai da Aviação

Entre o Brasil e a Europa


O último vôo de Santos=Dumont foi com o Demoiselle, o seu avião de Nº 20, semelhante aos ultraleves de hoje. O apelido foi dado pelo povo parisiense, que antes já havia cunhado o Nº 7 de Balladeuse, a passeadeira.

"Durante 10 anos ele construiu 20 balões e aeroplanos, voou em todos eles e submeteu-se a todos os tipos de tensão e de descargas elétricas", conta Henrique Lins de Barros, biógrafo do aeronauta e pesquisador do Museu de Astronomia.

A despedida dos vôos e a retirada de cena dos grandes acontecimentos deixaram o inventor brasileiro triste, sentindo-se esquecido e, com o tempo, deprimido.
Porém, esta depressão, para o pesquisador do Museu, teve relação também com a doença que nele se desenvolveu com mais evidência a partir dos anos 20 do século passado, isto é, depois dos 40 anos de idade.

Discurso em Paris


"Tudo indica que ele sofria de esclerose múltipla", revela o pesquisador, acrescentando que um dos sintomas comuns entre os portadores deste tipo de enfermidade é "a perda da vontade de viver".

Dumont veio algumas vezes ao Brasil, depois que se tornou uma celebridade. Na primeira delas, em 1914, ficou por pouco tempo. Os brasileiros queriam ver o pai da aviação voando sobre o Brasil. "Mas não havia condições para isso. O país não tinha tradição, não havia material apropriado e nem pesquisa. Não havia como tentar, aqui, um vôo", esclarece Lins de Barros.

Volta à França, porém, é tempo de guerra. Dumont, com sua mania de observar o céu, é confundido pela polícia francesa, que acha ser ele espião dos alemães. A confusão deixou o aeronauta apavorado e ele, então, queima diversos papéis e anotações pessoais, que hoje poderiam ser excelentes fontes de pesquisa.

Uma das últimas fotos

Santos=Dumont retornou ao Brasil, após passagens pelos EUA, Chile e Argentina, e, em 1917, começa a construir a casa de Petrópolis. Entre idas a Paris e retorno ao Brasil, vai percebendo o agravamento de sua doença. Em 1926, interna-se em um sanatório na Suíça. Dois anos depois, tenta voltar ao Brasil.

Em 3 de dezembro de 1928, Santos=Dumont voltava ao Brasil à bordo do navio Cap. Arcona, e vários intelectuais e amigos do inventor planejaram prestar-lhe uma homenagem.

Os amigos, alunos e professores da Escola Politécnica preparam ao herói nacional uma recepção, com um hidroavião batizado com o nome do Pai da Aviação, que jogaria flores sobre o navio, e uma mensagem de boas vindas em um paraquedas assim que a embarcação com Dumont a bordo entrasse na Baía de Guanabara.  

Mas, um imprevisto: na manobra de contorno, uma das asas do avião toca nas águas e o aparelho some no fundo da baía, matando todos os seus tripulantes, entre eles vários amigos de Santos=Dumont, tais como Tobias Moscoso, Amauri de Medeiros, Ferdinando Laboriau, Frederico de Oliveira Coutinho, Amoroso Costa e Paulo de Castro Maia.

A depressão do inventor só faz aumentar.

Santos=Dumont fez questão de acompanhar por vários dias as buscas pelos corpos, após o que recolheu-se, primeiro a seu quarto no Hotel Copacabana Palace, depois a sua casa em Petrópolis, onde entrou em profunda depressão.

Após algum tempo, voltou a Paris, internando-se em um sanatório nos Pirineus, indo a seguir para Biarritz.

Santos=Dumont continuou na Europa as suas pesquisas e invenções, únicas distrações que ainda conseguiam desviar-lhe a atenção dos desastres aéreos

Em 1931, Antonio Prado Júnior, exilado em Paris, foi visitar o amigo Santos=Dumont em Biarritz e constatou seu total abatimento, imediatamente telegrafando à família do inventor para que esta tomasse alguma providência.

Jorge Henrique Dumont Villares foi buscar o tio na Europa, trazendo-o definitivamente para o Brasil, e passou a ser seu inseparável companheiro, acompanhando-o nos últimos anos.


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