Páginas

08 à 10

Pág.: 08
Página 08
Pág.: 09
Página 09
Pág.: 10
Página 10


Pág. 008

 ram no aeroplano um collaborador na felicidade dos homens.

*
*   *

Creio, deveria ser chamada "Época heroica da aeronautica" a que  comprehende os fins do seculo passado e os primeiros annos do actual. Nella brilham os mais audaciosos arrojos dos inventores, que quasi se esqueciam da vida, por muito se lembrarem de seu sonho.

Enchem-nos, hoje, do mais justo enthusiasmo os actos de bravura dos aviadores do "front", como nos encherá de orgulho a noticia da travessia do Atlantico, que prevejo proxima.

Essa coragem, porém, que os consagra como heroes, creio, não é maior que as dos  inventores, primeiros passaros humanos, que, após heroica pertinacia em estudos de laboratorio, se arrojaram a experimentar machinas frageis, primitivas, perigosas. Foram centenas as victimas dessa audacia nobre, que luctaram com mil difficuldades, sempre recebidos como "malucos", e que não conseguiram ver o triumpho dos seus Sonhos, mas para cuja realização collaboraram com o seu sacrificio, com a sua vida.

Pág. 009

Não fosse a audacia digna de todas as nossas homenagens, dos Capitaine Ferber, Lilienthal, Pilcher, Barão de Bradsky, Augusto Severo, Sachet, Charles, Morin, Delagrange, irmãos Nieuport, Chavez e tantos outros - verdadeiros martyres da Sciencia - e hoje não assistiriamos, talvez, a esse progresso maravilhoso da Aeronautica, conseguido, todo inteiro a custa dessas vidas, de cujo sacrificio ficava sempre uma lição.

Penso, a maior parte dos meus leitores serão jovens nascidos depois d'essa epoca, que já se vae tanto ensobreando na memoria; supplico-lhes, pois, não se esquecerem d'estes nomes. A elles cabe, em grande parte, o merito do que hoje se faz nos ares...

*
*   *

A principio tinha-se que luctar não só contra os elementos, mas tambem contra os  preconceitos a direcção dos balões e, mais tarde o vôo mecanico  eram problemas "insoluveis".

 Eu tambem tive a honra de trabalhar um pouco, ao lado d'estes bravos, porém

Pág. 010

 o Todo Poderoso não quiz que o meu nome figurasse junto aos d'elles. As primeiras lições que recebi de aeronautica foram-me dadas pelo nosso grande visionario: Julio Verne. De 1888, mais ou menos, a 1891, quando parti pela primeira vez para a Europa, li, com grande interesse, todos os livros d'esse grande vidente da locomoção aerea e submarina. Algumas vezes, no verdor dos meus annos, acreditei na possibilidade de realisação do que contava o fertil e genial romancista; momentos após, porém, despertava-se em mim, o espirito pratico, que via o peso absurdo do motor a vapor, o mais poderoso e leve que eu tinha visto.

Naquelle tempo, só conhecia o existente em nossa fazenda, que era de um aspecto e peso phantasticos; assim o eram tambem os tractores que meu pae mandara vir da Inglaterra: puchavam duas carroças de café, mas pesavam muitas toneladas... Senti um bafejo de esperança quando meu pae me annunciou que ia construir um caminho de ferro para ligar a Fazenda à Estação da Companhia Mogyana; pensei que nessas locomotivas, que deviam ser pequenas, iria encontrar base para a minha machina com que realisar as ficções de Julio Verne. Tal não se deu: ellas eram de aspecto ainda

Página Anterior Índice do Assunto Página Seguinte
Volta ao Índice